05 fevereiro, 2006

Orat Et Labora


Eis aí irmãos a sentença que resume a espiritualidade beneditina: Reza e Trabalha! Admirável santo (São Bento), nos deu este pequeno e importante conselho para viver o evangelho. A partir deste “reza e trabalha” gostaria de falar-vos sobre a espiritualidade que deve ser cultivada em nossa comunidade.
Equilíbrio, esta palavra chave deve começar nossa reflexão. Nem tão a esquerda, nem tão a direita, mas o reto, o caminho do meio, como nos lembra outro santo, São João da Cruz na subida do Monte Carmelo.
São Bento viveu este propósito e percebeu como o equilíbrio, o caminho reto, o domínio de si é importante na caminhada espiritual, mas hoje, o como adaptar o “orat e labora” no nosso dia-a-dia é a questão.
Passamos desapercebidos por diversas atividades durante nosso dia, trabalhamos, estudamos, fazemos nossos afazeres domésticos, e muitas vezes esquecemos de rezar. Outras vezes estamos tão preocupados em rezar que deixamos de fazer algo que é necessário naquele momento. Enfim é difícil estabelecer um equilíbrio.
Para isso devemos contar com um elemento essencial: a disciplina. Sim, é muito importante disciplinar nossas atividades, não podemos viver cada dia com um “se der, eu rezo”, é preciso levar consigo sempre a intenção de rezar e servir. É dentro de nós que devemos enraizar o reza e trabalha.
A cada manhã devo oferecer cada serviço, cada trabalho a Deus rezando. Educando meus horários posso dedicar-me mais intensamente a oração e fazer do meu trabalho expressão de minha oração. Sim esta é a relação: rezo para melhor servir, rezo para melhor trabalhar. Façamos de nossos trabalhos expressão de nossa oração e façamos de nossa oração lugar de encontro íntimo com Deus.
Não é preciso agora tornar-se um neurótico cronometrando cada segundo e definindo previamente cada oração ou trabalho. Não é essa disciplina que me refiro. Nem sempre precisamos dividir a oração do trabalho. A disciplina que falo é a de estar sempre vigilante, sempre com a intenção de rezar. Durante o dia temos diversas ocasiões onde podemos nos dirigir a Deus, e é aí que entra a nossa disposição em conciliar trabalho com oração. Quando estou lá no meu trabalho e de repente fico sozinho, não há ninguém por perto e nada a fazer, um daqueles breves momentos em que estamos apenas “esperando um serviço”, pois bem, posso aí começar um pequeno diálogo com Deus, posso meditar um pequeno versículo, cantarolar uma pequena antífona, e retornar assim que precisarem de mim. A questão se encontra em levar continuamente a vontade de rezar com a necessidade de trabalhar. Quando São Bento nos diz: reza e trabalha, ele não disse, agora só reza e agora só trabalha, é algo que deve andar junto, porém há momentos em que nos dedicamos mais para um e depois para outro. Há momentos de profunda oração e momentos de intenso trabalho, onde concentramos nossas energias nisso e somente nisso, e são momentos extremamente necessários, mas nas demais ocasiões, conciliar trabalho e oração é a melhor coisa a fazer.
Que Deus nos ensine a rezar e trabalhar com confiança e disciplina aproveitando nosso tempo como sábios prudentes. “Vigiai, pois, com cuidado a vossa conduta: que ela não seja conduta de insensatos, mas de sábios que aproveitam ciosamente o tempo, pois os dias são maus.” (Efésios 5, 15-16)

Sem. Filipe