30 outubro, 2005

"OS VALORES DO BEM COMUM" por Dom Dadeus Grings.

Numa época em que se calca a subjetividade e se tende a fazer prevalecer o valor da individualidade, é preciso voltar a insistir nas características do bem comum. Criamos, por isso, em Porto Alegre, uma Escola do Bem Comum. A Igreja elaborou, ao longo do último século, uma consistente doutrina social, cujo compêndio a Santa Sé lançou ao público recentemente. Os grandes escândalos e a corrupção, que invadem todos os ambientes da vida nacional, mostram que a distinção entre o público e o privado nem sempre está muito clara e muito menos aflora à consciência.
Quais são, pois, os valores fundamentais do bem comum?
Podemos sintetizá-los em três grandes categorias, que englobam segurança, alimento e religião, ou, na expressão do grande filósofo chinês Confúcio: exército, pão e fé. Desenvolvendo esses temas, percebemos que eles envolvem muitos elementos, destacando-se a educação, como fulcro para alavancar suas exigências e o trabalho como meio de consegui-los.
Já lancei uma cartilha sobre a segurança, para advertir que ela não tem uma única causa nem pode ser reduzida a um único fator. É reflexo da convivência humana. Consegue-se por meio de dispositivos jurídicos e sociais, da distribuição eqüitativa de bens e da fé comum. Mas a classe dos médicos julgou-se injustiçada ao se enquadrar o erro médico entre as causas da insegurança em nosso país e no mundo. Diante da inusitada reação, prometi lançar uma cartilha especificamente sobre a saúde. Trata-se de um dos campos em que o bem comum hoje é mais agredido e merece uma reflexão acurada, bem como exige um mutirão que envolve toda a sociedade. A bioética constitui, hoje, o brado mais expressivo que a dignidade humana eleva, reivindicando melhores cuidados e mais respeito pela vida. A técnica penetrou nos mais íntimos segredos da genética, sem conseguir dignificar a pessoa humana. Pelo contrário, tornou-se, em muitos casos, instrumento de interesses bem distantes da valorização da vida.
Eis por que se torna necessário lançar um grito de alerta. Estamos chegando ao fundo do poço. Precisamos urgentemente unir-nos, num grande mutirão, que envolva todas as forças vivas da sociedade, para superar esta grave crise de humanismo. É nesse sentido que lançamos nossas reflexões, que, esperamos, repercutam em todos os ambientes, para que todos tenham vida e a tenham em abundância!
(Disponível em: <http://www.correiodopovo.com.br/>. Acesso em: 30/10/05)