18 setembro, 2005

A DIVERSIDADE DOS AMORES:

VOZ DO PASTOR, DOM DADEUS GRINGS
O amor não é unívoco. Existem muitas espécies de amor que não podem ser confundidas nem igualadas. Ao professarmos que o amor é a essência da vida cristã, iniciamos com aquele amor que nos foi trazido pelo próprio Cristo. Ele não só formulou um mandamento, que chama de novo, mas, pelo Espírito Santo, infundiu em nossos corações o amor de Deus. O amor cristão é, pois, uma virtude infusa, juntamente com a fé e a esperança, mas classificada por São Paulo como a maior delas. Está na categoria da graça e exprime a própria santidade.
Com o batismo recebemos uma vida nova, divina, que chamamos de graça santificante. Tornamo-nos ontologicamente santos, repletos do amor de Deus. Por isso, a rigor falando, ninguém se santifica a si mesmo, mas é santificado, desde o batismo, por Deus. Trata-se apenas de não perder essa santidade. Mais ainda: é preciso que dê frutos de boas obras, que, na sua essência, são o amor. Por isso podemos dizer que, desde o batismo, como somos ontologicamente santos e devemos tornar-nos santos também psicologicamente, temos igualmente ontologicamente o amor de Deus, mas devemos exprimi-lo e assumi-lo também psicologicamente. É essa nossa tarefa de batizados.
O amor cristão tem por modelo Jesus Cristo: amar como Ele amou. Isso significa que o amor não tem limites. Estende-se não só a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, mas até aos inimigos. Inclui misericórdia e perdão. Não há desculpa de eventual falta de correspondência. Nem número que possa justificar uma quota satisfatória, acima da qual pudesse considerar-se dispensado ou já ter suficientemente cumprido o mandamento. Vai até 70 vezes sete, o que, para quem não sabe calcular, é um número aberto ao infinito.
Mas, além do amor cristão, como máxima dádiva de Deus aos homens, fazendo-os participar de sua própria divindade, que é o amor, bom para os justos e injustos, misericordioso para os bons e maus, existem diversas categorias de amor humano. O primeiro amor, que nos é dado experimentar, como quem é amado, é o amor materno e o amor paterno. É da mãe que acalenta o fruto de seu ventre e é do pai, que se empenha na manutenção do filho que gerou.
Mas o primeiro amor, que alguém sente, como sujeito, ao começar a amar, é a relação que acontece entre os namorados e, depois, se solidifica no noivado, até culminar no casamento entre esposo e esposa. Descobre, por assim dizer, sua outra metade. De dois se tornam um só. Um vive totalmente para o outro, que o completa e realiza. É a unidade perfeita do amor humano.
Vem depois o amor filial. Os pais, que amam seus filhos, têm como maior recompensa a retribuição do amor, que neles se tornou filial. É o reconhecimento por tudo o que foi recebido, tanto pelo dom da vida transmitida como, principalmente, pelos cuidados que os pais tiveram para com ela.
Nesse clima de amor surge e se desenvolve o amor fraterno. Os amados dos pais, pela convivência familiar, começam a amar-se mutuamente. Conviver em família é amar-se. O amor filial envolve o amor fraterno. E os pais têm, como missão fundamental de seu amor paterno, educar seus filhos no amor fraterno. É o amor da família.
O amor fraterno se estende biologicamente, pela convivência, aos parentes, por consangüinidade; por afinidade a partir do matrimônio; e por parentesco espiritual, surgido da recepção dos sacramentos, entre os padrinhos e os afilhados.
Se o amor, que envolve parentesco, é por assim dizer estrutural ou institucional, existe o amor de amizade, que está ligado à espontaneidade. Parentes se recebem e, em conseqüência, é-se levado a amá-los; mas amigos se fazem ou se conquistam. Amigos de peito, sendo poucos, são extremamente importantes. Quem encontrou um amigo, nos diz a sagrada Escritura, encontrou um tesouro. E Aristóteles já definia o amigo com a metade de nossa alma.
Além dos amigos íntimos, todos temos um círculo mais ou menos amplo de conhecidos, com os quais temos certa relação de bem-querer. É importante que nosso amor se estenda mais e mais, a ponto de envolver o maior número possível de pessoas. Isso nos enriquece e enriquece a humanidade.