30 abril, 2007

O Tempo Sagrado


Amados irmãos e irmãs, muitas e muitas vezes nos deparamos com situações onde não conseguimos fazer aquilo que queríamos por que “faltou tempo”. Outras vezes deixamos de nos comprometer com algumas atividades também porque não temos tempo. Na família não há diálogo porque não há tempo, no emprego não há um ambiente tranqüilo porque o tempo corre, enfim vivemos nos privando e sofrendo muitas vezes por causa do então raro tempo. Mas se todos nós soubéssemos olhar com os olhos de Deus o nosso tempo teria outro caráter.
Vivemos num tempo de intensa “dessacralização”. Sim, o mundo tem perdido a consciência do Sagrado. Não no sentido de que existe o Sagrado, de que devemos nos relacionar com ele, de que há algo maior, mas no sentido de como nos relacionamos, como vivemos em contato com o Sagrado no dia-a-dia. No Sagrado há diversas dimensões. Existem os “lugares Sagrados”, como as Igrejas, os oratórios, as Catedrais, existem “pessoas Sagradas”, como os monges, os padres, freiras e consagrados, também existem “objetos Sagrados”, como todos aqueles utilizados na Santa Missa, o Cálice, a patena, a Biblia e assim por diante. Mas quero me ater ao tempo aqui. Temos também um “tempo Sagrado”, sim um tempo que pertence a Deus em nossa vida.
O domingo é o dia do Senhor, tempo Sagrado onde volto meu olhar para Deus e para mim mesmo e procuro sentir a sua presença intensamente naquele dia. É o dia onde encontro aquele espaço próprio para Deus e para mim, aquele momento na semana onde restauro minhas forças para continuar minha vida, é o dia do espírito.
Interessante como nos deixamos dominar pelo Kronos. Sim aquele mesmo deus grego que engolia seus próprios filhos, ainda hoje continua a engolir a muitos. Temos de substituir o Kronos pelo Kairos, o tempo da graça, o tempo de Deus. Constantemente o mundo nos exige que saibamos muitas coisas, administrar bem uma empresa, administrar bem nossas relações, administrar nossos bens, nossa casa, nosso emprego, mas como é difícil administrar nosso tempo!
Sabemos que quando vamos administrar algo colocamos as prioridades primeiro, vamos resolvendo as questões começando da mais importante indo para a menos importante, assim vai se distribuindo nossas atividades ao longo do dia, da semana, do mês, do ano. Aí se encontra nossa falha! Deus muitas vezes não é prioridade, não está elencado como algo importante na minha vida, vem em segundo, terceiro e até quarto lugar.
É preciso saber dedicar tempo também para Deus.
No meu dia há diversos momentos, “tempos”, onde posso conversar com Deus, onde posso “parar” e olhar para Deus. Não deve haver aqui uma ruptura, mas é extremamente necessário um tempo certo para cada coisa. Há uma intensa simultaneidade na nossa vida hoje. Procura-se fazer várias coisas ao mesmo tempo. Não há aqui um “estar presente”, e sim um constante “estar adiante”. Por isso perdemos o tempo, não porque não o temos mas porque deixamos de viver no presente e passamos a viver nos dez minutos a frente, nos perdemos “no tempo” e não “o tempo”. É preciso planejar o tempo, mas depois de planejado é preciso vive-lo.
Por isso a disciplina é essencial. Não no sentido de que devemos possuir uma rigidez, ou regras para vivermos nosso tempo, a disciplina que me refiro é aquela onde conheço bem o meu tempo. Faça a experiência, observe bem a sua semana, escreva num papel todos os seus momentos, de trabalho, de estudo, de lazer, de oração e procure viver intensamente cada um deles. Assim haverá tempo, pois você sentirá o tempo, verá que ele é um presente de Deus para você. Não corra, ande devagar na vida. Faça tudo com calma com amor, viva agora, olhe para Deus, dedique momentos para você e para Ele no seu dia, faça Deus participar de sua vida!
No domingo faça ao contrário, não encaixe Deus nos seus horários, se encaixe nos “horários de Deus”. Amém