24 novembro, 2006

Comunidade

Toda vez que nos reunimos para celebrar a Eucaristia, iniciamos invocando a Ssma Trindade. Nos reunimos em Deus Pai, por Cristo, seu Filho, no Espírito Santo, traçando o sinal da Cruz.
Hoje gostaria de refletir dois aspectos que estão diretamente relacionados com a Ssma Trindade, que possuem profunda relação com o Deus Amor. Sabemos que esta Trindade forma uma comunidade perfeita, uma harmonia e uma relação infinitamente perfeita. Refletiremos a comunidade como sinal no mundo. O que é uma comunidade? O que implica ser sinal no mundo de hoje?
Comunidade é a comum unidade entre diversas pessoas em vista de um mesmo objetivo, tornando plena e aperfeiçoando a vida e a vocação da pessoa humana, ao fazer parte de um único corpo. A vocação da pessoa é conhecer e amar a Deus com todas as suas forças, com todas as suas potencialidades, com todos os seus dons a disposição de cada membro desta comunidade e do mundo no qual está inserida, para levar a todos os filhos de Deus a Boa Nova do Evangelho através de seus testemunhos e práticas. A Paixão, morte e Ressurreição do Filho de Deus congregou estes mesmos filhos que outrora estavam dispersos, e convidou-os a serem sinal da presença constante e divina de Nosso Senhor no meio de todos.
Para que tal objetivo seja, de fato, alcançado, cada membro desta comunidade precisa exercitar a cada dia a prática das virtudes, e a buscar incessantemente a santificação por meio da Cruz Redentora, a mesma que traçamos no inicio de nossa celebração, e que é sinal de unidade, de vitória e de esperança, pois a mesma esperança e fé que temos na Ressurreição de Nosso Senhor, pelo testemunho visível dos apóstolos, é o que alimenta e conduz à ressurreição de nossas esperanças nas mais difíceis adversidades pelas quais enfrentamos ao sermos sinais no mundo de hoje, com tantas propostas e valores contrários ao Tesouro precioso da fé que guardamos. Estas propostas chegam a nós das mais variadas maneiras. Os meios de comunicação de massa, querem estabelecer um padrão de vida onde o pecado é estimulado e tido como requisito de uma vida de reconhecimentos e méritos humanos. O sinal aqui, portanto, deixa de ser uma cruz para ser apenas uma linha horizontal, subjugando a própria vocação e busca da plena felicidade e sentido para a vida de cada pessoa. Se não assumirmos a Cruz como verdadeiro sinal, nunca seremos sinal de Cristo no mundo, nunca seremos sal da terra e luz.
Temos, diante de nós, a oportunidade de aderir a este projeto benevolente e salvífico de nosso Deus. No entanto, nunca seremos salvos se, conhecendo a Verdade revelada, optarmos conscientemente pelo caminho mais fácil, mais plano, sem o esforço pessoal e o testemunho autêntico desta Verdade. O apelo de Nosso Senhor é que façamos tudo do modo mais humano possível – humano aqui, meus irmão, na mais profunda acepção do termo – ou seja, na vivência da caridade evangélica. Não podemos apenas nos conformar com a expressão de que errar é humano, pois, pelo mesmo Espírito que nos reúne aqui hoje, somos convidados a acertar. Podemos então, inverter e dizer que acertar é humano. Acertar o pedido do Pai, percebendo os sinais de clamor na face de cada pessoa que grita por liberdade, que grita por amor, que grita querendo ver em nós, comunidade, um sinal desse mesmo Deus, a face de Cristo, feito Homem que aceitou livremente os sofrimentos mais terríveis para a remissão de cada um de nós. O preço de seu preciosíssimo Sangue é a nossa redenção. Como o apóstolo Pedro nos diz, através das Escrituras, “pois a promessa é para vós e vossos filhos, e para todos aqueles que estão longe, todos aqueles que o Senhor, nosso Deus, chamar” (At 2,39).
Na comunidade somos convidados a dirigirmos o olhar para Maria, ícone do acolhimento e do Dom, a qual foram-lhe dirigidas as Palavras divinas através do Anjo Gabriel: “não temas”. O convite é dirigido para cada um de nós hoje, para que também nós, células vivas da comunidade, e membros de um único Corpo, cuja cabeça é Cristo, para que sejamos sal da terra e luz do mundo, deixando todo o temor de lado, e afastando todas as raízes que alimentam o pecado, que traz a discórdia, o individualismo, a prepotência e a auto-suficiência. Sempre seremos apenas barro, se não nos deixarmos moldar pelas mãos de Deus, Supremo Artífice, que dá a vida por meio de seu Filho, Jesus Cristo, e nunca seremos sinais se não conduzirmos a quem necessita às mãos deste mesmo Artífice, oferecendo nossas vidas em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus em favor do mundo, um sacrifício de suave odor, em comunhão com todos os santos e santas da Jerusalém Celeste. Dar graças ao nosso Deus, colocando nossos corações ao alto e bradando com toda a alegria: o nosso coração está em Deus. Amém.
Seminarista Tiago Tedesco.