08 junho, 2006

"Deixai-vos sempre guiar pelo Espírito (…). Se, porém, sois conduzidos pelo Espírito, então não estais sob o jugo da Lei." (Gl 5,16.18)

“Fostes chamados para a liberdade“. É o anúncio que Paulo de Tarso dirige aos cristãos das várias comunidades da Galácia. Um anúncio que faz lembrar as palavras de Jesus, quando ele disse que nos tornaria “verdadeiramente livres”. Livres do quê? Os cristãos da Galácia tinham ficado livres das prescrições legais da lei de Moisés. Essa libertação se estendeu depois a todos os cristãos. Mais ainda, nós ficamos livres do pecado e das suas conseqüências: os nossos medos, a busca desenfreada dos nossos interesses, os condicionamentos culturais, as convenções sociais… É por isso que somos livres quando observamos as normas de conduta social e religiosa do cristianismo; para nós, não pesam como imposições vindas de fora. Temos uma lei nova: “a lei de Cristo”, como a define Paulo. Ela está inscrita em nosso próprio coração, nasce no interior da pessoa renovada pelo amor de Cristo: uma “Lei de liberdade”. Uma lei que, ao mesmo tempo, nos dá a força para atuá-la. Somos livres porque guiados pelo Espírito de Jesus que vive em nós. Daí o convite:

"Deixai-vos sempre guiar pelo Espírito (…). Se, porém, sois conduzidos pelo Espírito, então não estais sob o jugo da Lei."
Neste período de Pentecostes nós revivemos o evento da descida do Espírito Santo sobre Maria e os discípulos reunidos no Cenáculo. Em forma de línguas de fogo, Ele derrama nos corações o amor de Deus. É esta a “nova lei”: o amor. O Espírito Santo é o Amor de Deus que, penetrando em nós, transforma o nosso coração, nele infunde o seu mesmo amor e ensina a agir no amor e por amor. É o amor que nos move, que nos sugere como responder às situações e às escolhas que somos chamados a fazer. É o amor que nos ensina a discernir: isso é bom, eu faço; não é bom, não faço. É o amor que nos impulsiona a agir procurando o bem do outro. Não somos guiados por algo externo, mas pelo princípio de vida nova que o Espírito Santo colocou dentro de nós. Forças, coração, mente, todas as nossas capacidades podem “deixar-se sempre guiar pelo Espírito”, porque são unificados pelo amor e postos à completa disposição do projeto de Deus para nós e para a sociedade. Somos livres para amar.

"Deixai-vos sempre guiar pelo Espírito (…). Se, porém, sois conduzidos pelo Espírito, então não estais sob o jugo da Lei."

“Se, porém, sois conduzidos…”. Existe sempre o perigo de que alguma coisa impeça o Espírito de conduzir plenamente a nossa mente, o nosso coração. Podemos resistir à sua voz e aos seus apelos a ponto de “entristecê-lo”, chegando até mesmo a “apagar” a sua presença em nós. Muitas vezes preferimos seguir os nossos desejos a seguir os dele, preferimos a nossa vontade à dele. Como, então, podemos nos deixar conduzir por essa voz que fala no nosso íntimo? Aonde ela nos leva? O próprio Paulo nos lembra, alguns versículos antes, que toda a nova lei de liberdade se resume neste único preceito: o amor do próximo. Em outras palavras, como Paulo sugere, ser livre significa fazer-se escravo dos outros, colocar-se a serviço uns dos outros. A voz interior (= o amor) nos impulsiona a nos interessarmos por aqueles que estão ao nosso lado, a escutar, a doar. Pode parecer estranho, mas todas as Palavras de Vida, no final, levam a amar. Não é uma interpretação forçada, é a lógica do Evangelho. Somente se estamos no amor, somos cristãos autênticos.

"Deixai-vos sempre guiar pelo Espírito (…). Se, porém, sois conduzidos pelo Espírito, então não estais sob o jugo da Lei."
Deixemos ao Espírito a liberdade de nos conduzir pelo caminho do amor. Poderíamos fazer esta oração: Tu és a luz, a alegria, a beleza. Tu arrebatas as almas, Tu inflamas os corações e inspiras pensamentos profundos e decididos de santidade, com propósitos individuais inesperados. Tu santificas. E sobretudo, ó Espírito Santo, tu que és tão discreto, embora impetuoso e arrebatador, que sopras qual leve brisa que poucos sabem escutar e sentir, olha a grosseria de nossa indelicadeza e faze de nós devotos teus. Que não se passe um dia sem te invocarmos, sem te agradecermos, sem te adorarmos, sem te amarmos, sem vivermos como assíduos discípulos teus.” Nós te pedimos essa graça.

Chiara Lubich